domingo, 26 de dezembro de 2010

Domingo

"Um domingo a tarde sozinha em casa dobrei-me em dois para a frente - como em dores de parto - e vi que a menina em mim estava morrendo. Nunca esquecerei esse domingo. Para cicatrizar levou dias. E eis-me aqui. Dura, silenciosa e heróica. Sem menina dentro de mim."
Clarice Lispector



Peguei um lápis, uma caneta e meu velho bom amigo caderno de escritos. Que vou escrever? Paro, penso, olho para o lado, pela janela no tempo que acabou de fechar e com certeza não demorará muito ate as gotas começarem a molhar o chão quente que o sol deitou. Voltei para o papel e comecei minha linha, sem muito sucesso apaguei todas as palavras que não me agradavam, enfim elas estavam me deixando irritada, e pensei “Porque não consigo escrever uma linha se quer”. Direcionei-me a observar o livro que estou lendo, onde duas crianças órfãs estão em uma caça ao tesouro perdido e mais famoso da história do mundo e da família a que pertencem, terrível eu sei, mas eu gosto de histórias épicas, misturadas com realidade, mistério, romance e tudo o mais, não sei por que este meu gosto, talvez seja porque queria estar numa dessas histórias, mas este assunto fica pra outra hora.
Olhei para o papel, ainda em branco em cima da mesa, com meus dedos rodando o lápis, sem saber o q dizer com tanta coisa pra se falar embaralhada nessa cabeça cheia de idéias, nessa minha capacidade de tentar escrever sobre o que vejo, sinto, penso a todo o momento. Talvez eu deva ser como Clarice: “Escrevo para me manter viva”. Coloquei um pouco de coca-cola num copo, e enquanto tomava e olhava as pessoas pela janela, pensei ao ver uma criança fazendo o mesmo, no tempo em que era muito mais divertido tomar um copo de coca-cola, onde tudo era mais fácil, inocente e a sinceridade vinha à tona sempre que precisava sem ser barrada. Eu não consigo não ser assim sincera até hoje, sempre quando tento me entrego na hora, mas não reclamo disto. Gosto-me assim, apesar de tudo, vale a pena ser honesta e sincera com as pessoas, seu coração agradece e muito no final.
Começou a chover, fechei a janela e fiquei observando as gotas baterem no vidro olhando as pessoas abrirem seus guarda chuvas e se protegerem da água que caia em suas cabeças. Lembrei-me da ultima vez em que tomei um banho de chuva, na praia num final de tarde do começo deste ano. Coisa mais divertida que existe, se pudesse faria o mesmo agora. Peguei a caneta e comecei a escrever algo, já que o lápis não me dava muita sorte na escrita hoje. Comecei meu poema, fiz três linhas e o apaguei, refiz e o apaguei várias vezes. Tinha algo estranho no ar. Eu não estava conseguindo escrever. Coisa rara de se acontecer principalmente nesta época do ano onde minha mente adora fazer retrospectiva do que se passa, passou ou que ainda pode passar. Percebi que estou fria, e isto não é normal. Sempre me sensibilizo com uma criança fofa brincando, ou um cachorrinho pequeno e sou chorona que só. Assisti a um filme água com açúcar que todas às vezes que assisto choro e não chorei. Há algo errado comigo. Talvez eu conheça a resposta e não queira admitir, acostumei em ficar só. As coisas andam tanto faz. Eu não acredito e muito menos confio em quase nada e em quase ninguém, só em mim. Deve ser os tombos que tomei as coisas que ouvi por ai e os cortes que ainda estão cicatrizando que me deixaram ultimamente assim. O pior de tudo é que não sinto falta de mudar, pelo menos não agora. Talvez eu precise de algo que toque minhas mãos e meu coração e faça minha vida mudar. E enfim escrevi.

Fabby

Ao Som: The Beatles - All You Need Is Love (Versão Across The Universe)